quarta-feira, 18 de março de 2009

pato fu


PODE ACREDITAR!

O Descontrole, para a sua primeira edição, conseguiu uma entrevista exclusiva com Fernanda Takai, do Pato Fu, confira aí!

O que faz uma grande banda dizer adeus ao mainstream para abraçar o
mercado independente? O Pato Fu, com seu novo disco, volta a experimentar o
gostinho de fazer música sem estar ligado a uma grande gravadora


Quando surgiu, no começo dos anos noventa do século passado, o Pato Fu era tido como banda alternativa (porque, naquele tempo, tudo o que era pelo menos um pouco “esquisito”, era rotulado assim). O primeiro disco da banda, Rotomusic de Liquidificapum foi lançado em 1993 por uma gravadora independente. Logo em seguida, o Pato Fu ingressou numa aventura mainstream com direito à hits em grandes rádios e até faixas incluídas em trilhas de novela. Com o disco Toda Cura Para Todo Mal, de 2005, a patota voltou a figurar entre os independentes, apesar da distribuição do disco ter sido feita pela SonyBMG. O importante é que as masters da gravação ficaram nas mãos dos mineirinhos e não no poderio de uma grande gravadora, o que impossibilita, por exemplo, que alguém resolva fazer uma coletânea não autorizada com as músicas da banda.

DESISTA DE SER SEMPRE VOCÊ
É difícil fazer comparações entre os discos do Pato Fu porque, desde o início, cada álbum retrata uma fase distinta de uma ban-da bastante mutante (desculpe o trocadilho, leitor, não tenho a intenção de equiparar, mais uma vez, o Pato Fu à banda do Sérgio Dias). Aliás, essa é uma característica inte-ressante que ajuda a medir a honestidade que o músico é capaz de imprimir em seu trabalho. Se o artista representa o seu tem-po, um bom disco deve ser o registro daquilo que se vive naquele momento e não uma repetição de fórmulas. Por não seguir fórmu-las, a banda do John, do Ricardo, da Fer-nanda, do Xande e do Lulu se reinventa a cada novo trabalho e consegue surpreender aos fãs e até mesmo aos que estão passan-do desapercebidamente. A galerinha optou por lançar seu novo álbum em formato virtu-al, antes do físico. As doze faixas de Daqui pro Futuro foram disponibilizadas para download na loja virtual da UOL e o disco completo pode ser baixado por R$9,90. Com esse novo trabalho (lançado em Outubro deste ano) O Pato Fu voltou ao mercado independente (a distribuição é feita pela Tratore): “Foi uma escolha natural. Já tínhamos experimentado o mercado independente no início, depois passamos 10 anos dentro de uma gravadora grande [BMG] com total liberdade artística. Quando o negócio começou a ficar estranho: os contratos pio-res, as verbas menores, não fazia sentido continuar”, conta Fernanda Takai. No formato físico, o CD não contém aquela já clássica inscriçãozinha: “Proibida a reprodução, execução pública e locação desautorizadas sob as penas da Lei”. Que o consumidor interprete isso à sua maneira.

Daqui pro Futuro veio mais calminho, um disco de uma banda pop madura e, apesar de inovadora, coerente. “Acho que a gente não é muito panfletário. Sempre acabamos apontando o dedo pra nós mesmos. Nossas incertezas, nossas alegrias e tristezas. Às vezes travestimos um tema mais sério com um arranjo mais pra cima. Talvez o Pato Fu não consiga ser nunca purinho. A gente é meio vira-lata nesse sentido.” As letras do novo disco, como as de anteriores, tratam de temáticas existencialistas com bastante propriedade. O Pato Fu não hesita em fazer canções que, embora se configurem como música pop, contém letras capazes de pro-vocar as pessoas a refletir sobre escolhas, amor, sexualidade, família, política, religião, violência, tempo, fama, liberdade e outros temas tão ou mais profundos. Isso ajuda a sustentar aquela teoria de que a música, ho-je, tem um papel importantíssimo na formação crítica do indivíduo, tarefa que até pouco tempo atrás era de incumbência dos livros e da literatura como um todo.

Fernanda Takai sussurra nas canções muito bem construídas de Daqui pro Futuro alguns recadinhos “maldosos” aos que colocam o disco novo da banda em sua playlist. O fato de as letras do Pato Fu estarem apontando o dedo para o indivíduo faz com que seu conteúdo esteja bastante conectado a uma certa filosofia existencialista. Em Espero, de Fernanda e John, pode-se ouvir: “Dizem que não sirvo pra gostar de ninguém, que não faço nada que não seja pro meu bem. Falo coisas de mau gosto, não posso evitar, e há quem mesmo vire o rosto ao me ver chegar”. Palavras que lembram personagens inventados por Jean-Paul Sartre ou por Clarisse Lispector em suas obras. Aliás, no novo disco há uma canção com o título A Hora da Estrela, uma certa referência à obra da escritora brasileira. Entretanto, a letra não fala da Macabéia, mas de alguém que está prestes a assumir um sucesso instantâneo, como essas pessoas que entram em evidên-cia por meio de reality shows ou escândalos midíáticos. Woo! tem clima setentísta, lem-brando os Mutantes (ops!) ou, talvez, Secos e Molhados. Pela primeira vez, aparente-mente, os patinhos falam sobre a temática homossexual, convidando o sujeito a “sair do armário”: “Veja como é ótimo, não tenha medo, conte seu angélico segredo”. Mas a canção abre espaço para uma interpretação mais anárquica quando faz uma interpelação para que se largue tudo e vá à forra, can-tando que “a confusão pode ser doce, a perfeição pode matar”. Mamã Papá nos remete, à primeira audição, à Nina, filha do casal Fu, por causa de suas considerações sobre a responsabilidade de se iniciar uma família. Tudo Vai Ficar Bem, com a partici-pação estrangeira de Andréa Echeverri (Aterciopelados), leva o ouvinte a conhecer o engajamento político-social da banda. A Verdade Sobre o Tempo trata a maturidade com uma visão filosófica um pouco mais ousada que a de Almir Sater em Tocando em Frente. Deus também desce do céu pra cantar “Quem não sou” (com participação especial do robozinho de Simplicidade). Nada Original apresenta a vida desgastada de um casal que vive uma rotina intermitente e 1.000 Guilhotinas reflete sobre a guerra. 30.000 Pés e Vagalume são a face mais pop do disco que, como todo mundo já sabe, carrega ainda uma versão super maneira de Cities In Dust do Siouxsie & The Banshees.

Um pouco às escondidas, o Pato Fu se caracteriza como uma das mais respeitadas bandas do Brasil. Surgida numa década um tanto turbulenta, sustentou um jeito de ser próprio que, apesar de mutável, não desa-grada aos fãs que acompanham o trabalho da banda desde o comecinho. A partir do rompimento com a ex-gravadora, vem assumindo uma nova forma que, possivel-mente, fará com que o Pato Fu se configure entre os melhores do mundo (como já foi classificado, nos tempos do Ruído Rosa, por uma revista estrangeira). “O ‘Toda Cura...’ já foi um exercício de independência mas era distribuído ainda pela SonyBMG. Este ano percebemos que havia mais agilidade e satisfação pessoal mesmo no trabalho com gente que gosta e acredita na nossa música de verdade. E tem sido muito bom! Hoje é bem melhor ser independente que no come-ço dos anos 90, quando nem internet havia...”. Talvez este seja o aval do Pato Fu às bandas novas que vem surgindo e fazendo com que a música brasileira dê um salto de qualidade em direção à universali-dade da arte e da catarse pop que faz o mundo se conectar para além de interesses comerciais. Assim seja!

segunda-feira, 2 de março de 2009

wonkavision

Que tal rever as entrevistas que já foram publicadas nas edições impressas do descontrole? Achamos que seria legal disponibilizar aqui no site os textos que nos deixaram orgulhosos de ter um fanzine! E, em breve, a edição #quatro repleta de novidades e exclusividades!

Para começar,
WONKAVISION

NEM TODO MUNDO É IGUAL

Numa efervescência de

bandas parecidinhas,

o rock nacional ganha uma visão ao mesmo tempo

colorida e sinistra

por meio da gaúcha Wonkavision

A infância nos anos oitenta cheirava a pipoca e “sessão da tarde”. Engraçado como se repetiam vários filmes, alguns deles clássicos, como o incrível musical Willie Wonka and The Chocolate Factory, de 1971, mais conhecido por aqui como A Fantástica Fábrica de Chocolate. Pouco mais de trinta anos depois, uma nova versão do livro de Roald Dahl foi rodada, Charlie and the Chocalate Factory, com Jhonny Depp no papel do divertido e macabro Willie Wonka. Divertido e macabro, como o rocknroll, né? No início dos anos 2000 uma banda lá de Porto Alegre, com a pretensão pop de soar sinistra tendo como plano de fundo um cenário multicolorido, foi batizada de Wonkavision. Em 2004 lançaram seu primeiro álbum, produzido pelo John (Pato Fu) e distribuído de maneira independente. Sem medo do pop[1], o Wonkavision caprichou em um disco de ótima qualidade, guitarras distorcidas e um moog que já é característico. Recentemente, gravaram suas músicas em inglês, para o lançamento de um disco no Japão, e disponibilizaram todas as faixas no Trama Virtual. “Não foi fácil regravar as vozes em inglês. Isso porque o trabalho de voz da Grazi [ex-baixista do Wonkavision] no disco é maravilhoso, ela é uma grande cantora, então sempre tem a comparação com o que já estava gravado na voz dela. E ainda por cima não tive muito tempo pra trabalhar as músicas, treina-las em inglês, enfim. A situação da gravação foi bem corrida. Mas felizmente cumpriu com as expectativas e o CD ficou legal. O CD teve uma boa recepção no Japão, mas o ideal seria fazer shows lá pra divulgar o disco. Essa oportunidade surgiu, mas infelizmente não tivemos patrocínio pra viajar pra lá, aí ficou difícil. Mas quem sabe esse ano?”, diz Manu, em entrevista exclusiva ao Descontrole.

Com a saída da Grazi, o Wonkavision incorporou um músico que fez parte da extinta Vídeo Hits, o Gustavo. “O Guzz é um puta baixista!! Além ser uma pessoa maravilhosa. A entrada dele na banda só nos trouxe alegria e a influencia dele no disco novo foi decisiva, não só no baixo, mas nos outros instrumentos também. O Guzz tem um ótimo gosto musical também por isso suas idéias sempre foram bem-vindas”. Disco novo? “O disco já está gravado e está em fase de pós-produção - o que é algo demorado. Estamos com planos de lançar as musicas na medida em que elas forem ficando prontas. Esse é o projeto pra 2008. Foi gravado em Porto Alegre/RS e também em Gramado/RS. As músicas estão bacanérrimas!!!” A banda, com esse novo trabalho, se rende à nova configuração da industria cultural (se é que ela ainda existe): “somos a favor da distribuição das musicas na rede, acredito que esse é um caminho sem volta. Ao mesmo tempo que impede que grandes gravadoras ganhem dinheiro com vendas de musicas, proporciona espaço para muitas outras bandas que nunca seriam ouvidas se não existisse a internet”. O Wonkavision já começou a disponibilizar as faixas de seu novo disco (será lançada uma faixa por mês, até completar as doze que formarão o álbum novo). A primeira música, “O ímpar perfeito”, já pode ser baixada no site da banda (www.wonkavision.com.br).

Leo Vinhas, em um texto do Scream & Yell[2], escreveu que “o Wonkavision faz o possível para não passar para a ‘história’ como mais uma banda cult à qual só jornalistas e meia dúzia de fãs garimpeiros (que curtem mais a idéia de ter um som pouco conhecido do que a música em si) têm acesso”. O que é, afinal, o pop? “Qualquer banda quer que sua música toque pra caramba por aí. Lembro que até o Cardigans respondeu isso na coletiva de imprensa deles em Floripa quando os jornalistas perguntaram... Não acredito que ser do mainstream ou do underground seja uma escolha. Mas acredito que de qualquer forma o mercado fonográfico mudou muito nos últimos anos, pra qualquer tipo de artista, mesmo os do mainstream. Acredito que hoje o artista tem que estar mais envolvido com sua carreira e os caminhos que quer percorrer com ela, porque senão é difícil se manter no mercado. A Fernanda e o John (Pato Fu) continuam sendo um exemplo pra nós enquanto artistas, já o que o envolvimento deles vai muito além de compor e gravar musicas. A Fernanda acabou de lançar um ótimo livro e regravou diversos sucessos da Nara Leão, ficou muito bonito. Esses novos produtos são fruto do esforço dela, curiosidade dela em criar cada vez mais e não simplesmente uma idéia aleatória ou comercial de um produtor”.

Manu afirma que, apesar de discutirem diariamente assuntos como problemas sociais, pobreza e capitalismo, as músicas do Wonkavision estão mais preocupadas com o universo do indivíduo em seu cotidiano solitário. A banda “fala de questões que são comuns a todas as pessoas como ciúmes, relacionamentos amorosos, amor, traição, planos para o futuro”. As letras são do Will e tem uma dimensão filosófica/existencial. Manu acredita que “cada pessoa é absolutamente responsável por aquilo que lhe acontece por mais absurdos que os acontecimentos possam parecer, e que os acontecimentos em si estão diretamente ligados com a visão que temos do mundo”. Fica para o fã da boa música a tarefa de refletir sobre como seria a vida de quem possui uma wonkavision e de ficar atento aos novos lançamentos da banda pelos sites da internet.



[1]sabemos que o Brasil é um país onde a cultura maciçamente consumida é a massificada, aquela que está nos canais da TV, nas rádios. Acredito que aquilo que recebe investimento desses meios de comunicação acaba virando POP, não importa a qualidade. Por isso tem coisa POP muito boa ou muito ruim, isso não importa. O que é bom e o que é ruim?? (essa fica pra próxima entrevista... hehehe)” – explica Manu.