quinta-feira, 20 de novembro de 2008

rock'n'beats

Para comemorar o seu primeiro ano, o Fanzine Descontrole lança a terceira edição recheada de coisas legais e publica aqui no blog três matérias que estiveram presentes numa edição especial: Charme Chulo, P-Project e JB e Seus Amigos Sex Symbols. Por falar em JB, a banda estará tocando hoje, na festa Rock'n'Beats que acontecerá no Bar do Zé, a partir das 22h.

editorial descontrole#3

Já saiu o Descontrole#3
Procure o seu!



Sem termo-nos tornado um fenômeno cultural, mas já próximos de ser referência de informação em Campinas, chegamos à nossa 3ª edição repletos de boas intenções e novidades. O zine mantém sua qualidade editorial entrevistando uma banda que se destacou no cenário da música independente brasileira: diretamente de Curitiba, Paraná, Terminal Guadalupe aceitou falar conosco e se configura como carro chefe dessa edição. De Campinas, Radiare, numa matéria mais do que especial. Diretamente do inferno para as sete encruzilhadas, um grupo de Fortaleza que marca presença nos festivais alternativos do país: o Montage. Nessa edição, as novidades ficam por conta das resenhas (de disco e filme), da coluna de moda (estrelada por Aline Rojas) e da quantidade de páginas (que aumentou um pouquinho). Nossa seção de literatura continua bombando, com texto de William, um de nossos editores e nossa preocupação com a imagem se tornou um pouco mais aguçada nessa edição: imagens maiores para ilustrar os textos (devidamente examinados por nossa comissão de qualidade) que são a essência dessa publicação

Há um ano passeando pelas mãos do público mais exigente dessa cidade, o Descontrole ainda continua com a intenção de se tornar um veículo de comunicação mais abrangente. Ainda não temos possibilidade de torná-lo melhor distribuído (todo o financiamento vem do bolso dos dois pobres editores e ainda não conseguimos patrocinadores). Dessa forma, deixamos aqui um apelo às boas almas do rock Campinas: toda ajuda será bem vinda.
E se você quiser contribuir com o zine mandando textos, matérias ou realizando alguma entrevista com personalidades da cultura pop, envie-nos seu texto por e-mail e ele passará por nossa comissão de qualidade. Se aprovado, você se torna um parceiro do Descontrole!

charme chulo


O rock, no Brasil, várias vezes juntou elementos da cultura popular para criar um som próprio, característico. A viola caipira, na canção 2001, de Tom Zé e Rita Lee (gravada em 1969 pelos Mutantes) flerta maravilhosamente bem com o som revolucionário de guitarras distorcidas. A canção vem anunciando um tempo novo, por um profeta que é, ao mesmo tempo, baiano e estrangeiro: Dei um grito no escuro, sou parceiro do futuro, na reluzente galáxia”.

Numa viagem feita na velocidade da luz, chegamos à segunda metade da primeira década do terceiro milênio. A configuração da música desde o final da década de sessenta até aqui mudou muito. Hoje a música não chega mais num disco de vinil, de uma maneira que se possa palpar, mas vem feito bolha de sabão, por meio de um mecanismo virtual. E vem sempre reciclada, refeita, misturada.

A raiz brasileira aparece por aqui de novo, num rock que, dessa vez, vem lá da capital do Paraná. E a configuração da música aparece até mesmo no nome da banda: Charme Chulo. São uma espécie de Smiths caipiras. Como na referida banda, o Charme Chulo também tem por base a combinação do baixo e da bateria com um instrumento acústico. Ao invés dos violões que seguram a voz de Morissey, uma viola caipira é o alicerce para Igor Filus costurar suas letras em melodias bastante folk e, ao mesmo tempo, dançantes.

Além de Igor, a banda conta com seu primo, Leandro Delmonico, Peterson Rosário e Rony Jimenez. Já tem um disco gravado (lançamento em 2007) e um registro ao vivo realizado pela Grande Garagem que Grava. Composições como Mazzaroppi Incriminado e Polaca Azeda já viraram hits entre roqueiros mais antenados. Mas não é a gravação o ponto alto da banda.

No palco, o Charme Chulo apresenta um show vigoroso, com a presença bastante envolvente de Igor nos vocais.

Em abril desse ano a banda esteve em Campinas a convite do JB e Seus Amigos Sex Symbols. O show, realizado no Woodstock Music Bar, tinha um público pequeno, mas mostrou a força da banda curitibana. Alem das canções do álbum da banda, como Não Deixa a Vida Te Levar, A Caminho das Luzes Esta Noite, Piada Cruel e as já mencionadas por aqui, Charme Chulo realizou um cover de 2001, dos Mutantes, mostrando o potencial universal que uma música pode ter quando ela nasce “sem ter idade”. E a música do Charme Chulo, junto de outras bandas novas como Terminal Guadalupe e Violins, parece que veio pra preencher uma lacuna que o rock nacional tinha desde o desaparecimento de grandes ícones como Cazuza e Renato Russo.

Há a possibilidade de baixar algumas canções da banda no site oficial:

http://www.charmechulo.com.br/

p-project


Entusiasta da cena musical da cidade e amiga do fanzine DeSConTRoLe, Letícia Dario tem vários projetos rolando na cidade de Campinas. Ela, a Cris e a Letícia Moreli formavam a Supervix: foi o projeto mais representativo no meu histórico musical, e da Cris também. Foi com ele que a gente começou a filtrar nosso público. Gravamos um demo com 6 músicas e tocamos bastante por Campinas”. Antes da Supervix, Letícia fez parte de uma outra banda importante para a cidade, a Papel de Parede: “foi o projeto mais longo até agora. Gravamos um demo, tocamos em várias cidades, mas acho que pelos diferentes pontos de vista sobre o mercado e mesmo o estilo, ela terminou. Foi uma escola pra gente, foi muito válido”. Agora, a Lê e seu baixo, junto com a Cris (bateria), a Fernanda (voz e violão) e o Henrique (guitarra) são o P-Project: “Bom, eu e a Cris estávamos meio perdidas depois do fim da Supervix, que foi um projeto muito importante nas nossas vidas. Eu já conhecia o Henrique através do estúdio onde trabalhei e sabia da vontade dele de tocar Pixies, mesmo sendo ligado mais à MPB. Um dia, numa mesa de bar com a Fernanda a gente comentou de tocar juntas e a idéia se concretizou. Foi automático e a sintonia musical foi imediata!”. A Fernanda Dias é cantora e compositora de MPB e o Henrique é uma das metades da dupla Taís e Henrique, que toca e compõe MPB, né? “Bom, a gente ‘roubou’ o Henrique da Taïs um pouquinho (risos)! Eles são amigões nossos, além de músicos incríveis. O projeto dos dois está firme e forte! A Fernanda é amiga deles há mais tempo e é da MPB também. Tem um CD solo lindo. Os dois se jogaram no Rock nesse projeto Pixies!”. Apesar da diversão garantida, formar e manter uma banda de rock numa cidade como Campinas não é coisa fácil: “É complicado ter uma banda nova, sem contatos e sem material. É importante criar vínculos, gravar um material de qualidade e ter bandas amigas que possam se ajudar”. Letícia acredita que os principais elementos da cultura pop campineira são as bandas, mas que, sem público, a arte não vai pra frente. Quais seriam as principais vias para que houvesse uma maior participação? “Não acho que Campinas tenha alguma característica diferente que favoreça a participação dos jovens, afinal são poucos locais para mostrar o trabalho e a maioria é segmentada por estilo, mas também acredito em eventos independentes como o Rock'n'Rosa”. Como é a “cena” em Campinas? “acho que Campinas se assemelha a muitas cidades do interior pela quantidade de jovens ligados a segmentos de rock mais antigos ou mais clássicos, como hard rock, progressivo ou heavy metal. Isso é construtivo, com certeza, mas não é comum ver um jovem andando com a camiseta do Of Montreal, do Metric, ou mesmo de bandas mais famosas como Weezer ou Libertines”. Além dos projetos já descritos, Letícia também participou da formação da banda Double Drink e, junto com a Cris, fez um set de Strokes Cover, além de já ter feito apresentações com amigos no projeto Rockacústico (que inclui os membros do P-Project). “A gente curte rock e cada segmento nos ensina algo novo. Não necessariamente o que é bom de ouvir, é bom de tocar”. Obrigado, Lê!

bemsuado

O Raphael chegou e eu já estava no balcão, tomando uma cerveja. A verdade é que a cada gole vinha junto um pensamento terrorista de censura (não sei o que está me acontecendo, mas toda vez que tento me divertir um pouco uma voz tenebrosa fica a repetir na minha mente: lei seca, lei seca...). Alucinações à parte, o carismático Raphael Castro disse acreditar nesse tipo de comunicação (o fanzine) e apresentou-me a uns amigos do Paraná, um deles, o cara mais alto, chamou-me a atenção por conta de uma camiseta com estampa dos Smiths. Os rapazes que me foram apresentados eram A VI Geração da Família Palim do Norte da Turquia. Quêêê??? Isso mesmo! A Família Palim, para os mais íntimos, é uma banda de Maringá (PR). Depois de um bom papo sobre música, comunicação, cidades e outros assuntos, os paranaenses foram afinar os instrumentos para a apresentação que se seguiria. Três guitarras, um contra-baixo e uma bateria eletrizaram a noite do Woodstock Music Bar com composições próprias falando de Islamitas, Católicos e Indies, no maior clima rock’n’roll-entre-amigos. O pequeno público presente, apesar de tímido, pareceu gostar do som da banda, ainda mais quando rolou uma versão brasileira dos Ramones. Logo em seguida, os nossos conterrâneos do JB e Seus Amigos Sex Symbols (a banda do Raphael, velho conhecido desse nosso texto), tomaram o palco e fizeram todo mundo, religiosamente, ficar bem suado. Não vou descrever o show (mesmo porque o espaço desse box já está acabando), mas quero ressaltar a importância do trabalho que o JB tem feito. Há um tempo a banda tem sido a ponte entre Campinas e outras cidades. Eles realizam um orgástico troca-troca rocknroll. Espera aí, deixe explicar-me direito: a banda vem pra cá e eles vão pra lá, numa espécie de intercâmbio que permite à banda de Campinas levar seu som para fora da cidade e traz para nós a possibilidade de estar perto de outras bandas, como a Família Palim e o Charme Chulo (sim, o Charme Chulo esteve aqui este ano – ver texto nesta edição). Iniciativas assim, merecem o aplauso dos roqueiros carentes da cidade. A única parte negativa é que com essa constante agenda de shows na cidade, aquela voz tenebrosa fica me assombrando toda vez que saio de casa: lei seca, lei seca... Xô, Satanás!
www.myspace.com/jbeseusamigossexsymbols